sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O Sonho, a velha espada que se lembra.
Mais alguém, há mais alguém?

A noite nasce, a noite cresce,
Já reconheço ao longe o perfume da tua voz.
Olho para dentro dos teus olhos, belo Amor, bela Alma.

Por onde ficam os Corpos a procurar a sede,
Por onde passam as coisas, as gentes, os seres.
Por onde fica o chão a alastrar debaixo dos meus pés,
Por onde fica o perdão e o olhar da procura.

Não tenhas medo de olhar, de sorrir, de falar, de um comportamento inesperado
Não tenhas medo do meu ser
Não tenhas medo de começar de novo.

Aproxima-te, levanta o teu olhar do chão
Faz regressar o teu Ser mas não o teu Corpo,
Apenas te peço que passes por mim e [não] deites uma lágrima.
Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia por caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida,
E assim quero que possa ser sempre
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.


Alberto Caeiro

Sou um guardador de Rebanhos

Sou um guardador de Rebanhos
O Rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar numa flôr é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu ser deitado na Realidade,
Sei da verdade e sou feliz.


Alberto Caeiro